JANUS

 

Sarkozy quer aproximar a Europa do Mediterrâneo. Melhor seria dizer: o que tu queres sei eu! António Vitorino, em alegre chalra com Judite, na versão sóror das conversas com o Prof. Marcelo, disse que era uma iniciativa extraordinária que tinha por objectivo resgatar aquelas mentes beduínas das nefastas influências do terrorismo. Acrescentou também que era uma tentativa para contrariar a tendência continentalista crescente que vigora actualmente na Europa. Esqueceu-se, infelizmente, de partilhar connosco a verdadeira razão. Sarkozy quer opor ao eixo continental austro-alemão, um eixo franco-mediterrânico.

Com a queda do muro de Berlim e com a conversão dos países de Leste ao capitalismo neoliberal, a Alemanha, mas também a Áustria, poderam aceder a um mercado em expansão apenas limitado pelos Urais. Um tal posicionamento geo-económico privilegiado reforçou acentuadamente o poder negocial da Alemanha, doravante controlando economicamente quase metade da Europa. Não será de negligenciar as afinidades históricas e culturais que a maioria dos países de Leste possui com a Alemanha e a Áustria; factor que mais nenhum país – tirando a Rússia – dos antigos 15 europeus pode reclamar. 

Sarkozy, e a sua pretensamente generosa aproximação ao Mediterrâneo, quer reeditar o eixo franco-alemão, enquanto eixo hegemónico economica e politicamente. Só não é militarmente, porque a NATO não se compadece com estes desígnios fracturantes.

Estaremos nós a ser gradualmente guiados para uma situação pré-primeira guerra? Será talvez menos coincidência do que à primeira vista se possa pensar que no momento em que o projecto europeu vacila –porventura para não mais se recompor-, surja no horizonte o espectro do velho eixo franco-alemão. Não foi afinal para evitar a sua recuperação – e rivalidade – que a Europa comunitária se formou?   

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